Por Sérgio Vilar
22 de março de 2011
Escrever sobre o amor é recair no óbvio, no já destrinchado, poetizado, pintado e malhado nobre sentimento do amor. Mesmo “Matando o Amor”, Simona Talma e Luiz Gadelha permanecem na toada das desilusões amorosas cantada por eles mesmos em outras canções. Mas o muito é sempre pouco quando se fala de amor. E o que vem dessa dupla é sempre muito: um muito gostoso de abarcar. Como me disse ontem Isaque Galvão, todo mundo sofreu, sofre ou sofrerá por amor. Então, o assunto interessa sempre, e a todos.
Alguns gênios conseguem encontrar uma matiz diferente ao pintar o amor. Acontece de tempos em tempos. Aqui e acolá aparece outro Romeu e Julieta, é só esperar. Não foi dessa vez. Nem foi essa a pretensão de Matando o Amor. E o bom do álbum é esse: é um CD aparentemente despretencioso. Traz baladinhas gostosas. Os arranjos respeitam o pop em suas derivações quase ilimitadas, mas bem próximos desse rock mais pop das bandas atuais. A produção está impecável. A capa está primorosa.
E a dupla… Bem, a dupla é o que há: é a moça mais vagal e o moço mais vogal. Simona Talma é blues, é melancolia doce. E por isso senti falta dela no CD. Luiz Gadelha é pop virtuoso. Tem lá sua dose triste, lá no fundo, como quando se busca a pimenta leve no último paladar. Ela está lá. Achei que ficou mais letra de Simona e melodia de Gadelha. Preferia o contrário, embora qualquer mistura dos dois renda bem. A mostra é o amor matado em melodias alegres e letras nem tão melancólicas assim.
Enigma abre o álbum com um pop mais puro. “Pirulito não é complexo. Mas você é”. Achei massa – o melhor da letra (afora o “cala a boca. Bota essa merda aí”, de Simona ao fim da música). Daqui há alguns anos eu achei bem Pato Fu; pelo menos nos arranjos. O roqueiro e a hippie foi das letras que mais gostei. Porque todo coração é burro guarda a ironia sarcástica de Simona. Se fosse feio une bem letra e melodia: composição mais desiludida com arranjos mais tristes. Perfeita.
Bons meninos é a balada típica. Acho que foi a escorregada do disco. Doce hora é outra balada, mas já se percebe melhor esmero na letra e um arranjo mais interessante. Mais uma cereja é uma beleza, no melhor estilo baladinhas dos anos 60 – muito massa. Cola em mim permeia mais um cenário adolescente com frases do tipo “a vida não é video game”, ou mesmo a gíria do título, mas vale à pena. O álbum fecha com a canção-título: a melhor música disparado. Simona está vagal e o rock se faz presente.
Baixem o CD; escutem. É música boa para um dia comum. Matem seus amores. Dessa forma, vale à pena. Se a alma for pequena ou do tamanho do seu amor.
FONTE: http://diariodotempo.com.br/2011/03/talmaegadelha/
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